terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Rio


" Cinco ou seis dias e o ar quente da cidade esquecida iria se esvair, como as nuvens nos ventos de outono. A margem do rio onde chorei não me chama mais em desespero, agora é um antigo amigo, que sabe de todos os segredos mais profundos... Profundos como suas águas escuras. Deitei a sua margem para conversar, com um velho caderno nas mãos, deixei as pontas dos meus cabelos serem banhadas pelo rio, como em ar de agradecimento por me deixar ficar ali. Estava frio, mas eu estava preparada para ficar ali o tempo que fosse necessário, cantei alguma melodia dos Beatles enquanto ouvia o rio correr em sua longa e serena travessia... Parece que agora nos entendemos, eu e o rio. Lutei tanto contra ele que, evitei suas margens, suas águas e suas cores ao entardecer, e hoje era o meu amigo mais sincero, que se ofereceu não para enchugar minhas lágrimas, mas sim para misturar as águas de suas lágrimas com cada gota das minhas. Abri meu velho caderno e peguei a primeira carta lá guardada... "

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Pimenta


"Melodia que arde na boca como pimenta inteira e mastigada, bem-de-vagar. De asas quebradas não voa, mas jamais desaprendeu a dançar e, para seu próprio martírio aprendeu a cantar. Pintou seus traços com as cores vibrantes do mundo, purpurina dos sonhos de antes e dos de agora, fitas de cetim. Tingiu com batom vermelho um sorriso no rosto. Não importava mais, ela gostava era do inferno.
Foi o jeito que deu para continuar em pé e caminhando, foi como aprendeu a respirar depois de já ter morrido de vez em vez, foi o jeito que deu na vida. Jeitinho.
As unhas vermelhas não secavam mais lágrimas de amor-desamor. Não secava mais lágrima alguma, a melodia desaprendeu a chorar. E de hora em hora tentava qualquer dor para saber se ainda existia dor tão forte no mundo capaz de a derrubar no chão indefesa. Não tem  historias para recitar pelas tardes de domingo ao sol, possui apenas esse ardido na boca, veneno para quem ousar de provar. Ela cantou no rosto do amor, em tardes melodramáticas sem saber que era tarde de mais.
Sentia tanta falta de doce e não ardida, de contar historias inventadas ao por do sol... Sentia tanta falta de não usar batom vermelho, de pintar as unhas de rosa claro e saltitar até algum abraço apertado e rodopiante. Mas tinha uma esperança bem guardada em uma caixa pequenina azul, de que um dia as asas vão crescer de novo e com as nuvens fará um vestido para o verão.
Lhe ofereceram um chá amargo, com a desculpa de a vida ser doce de mais. Olhe para ela, a vida parece doce de mais ? Parece açucarada de mais ? Olhe para ela... Rindo em seu salto azul, enquanto a estrada colori sua pele com mais uma vida que tirou em um acidente qualquer. Ela só queria ouvir suas músicas às 3h da manhã, e acordar com o sol beijando seu rosto enquanto canta “Bom dia“ em qualquer tom maior.
Aos poucos cantava, e aos poucos voltava a doce vida que enterrou tão fundo, aos poucos voltava para a luz e deixa as asas crescerem, aos poucos rodopiava para aprender novamente a voar."

sábado, 28 de janeiro de 2012

Espelho


“E teve que construir outros valores…no lugar de valores antigos que eram lindos e perfeitos por sua doce memória preservada. Teve que construir outros, assim ainda por cima dos cacos que ainda estão naquele chão frio. Estão lá por que ainda não teve coragem de recolher, talvez fiquem lá por um tempo, como quem acredita que um vento irá soprar e quem sabe juntar esses cacos de novo. Mas quando fecha os olhos sabe que não haverá vento algum. Vê as lagrimas de uma criança, criança que não deverá recolher esses cacos…Pois pode se cortar,vê em suas lágrimas a decepção e a tristeza escondida, nem demonstrá-la é permitido…Decepção por terem quebrado, quebrado o momento mágico, as lembranças e os porquês. Vê a raiva de um homem, vê em sua ira a tristeza mal resolvida que carrega dentro do peito, e que por sorte ao gritar e ao xingar coloca para fora, não é tudo, nem metade… Mas é alguma coisa.Vê suas lembranças jogadas naquele chão, ele também não pode recolher os cacos, se cortaria, ou esqueceria de algum pedaço perdido debaixo do tapete. Vê uma mulher recolhendo os cacos, ajoelhada no chão frio,vê uma mulher que além de recolher os cacos guardou cada pedacinho para tentar colar um por um.Que as pressas como em desespero construiu um novo dia e novos valores, disse palavras de conforto que nem se quer poderia acreditar que fossem verdade, mais disse…Foi preciso. Ela sorriu, arrumou tudo, confortou a criança que chorava e ao homem que esbravejava, tentou transformar o dia que restou em um dia bom, um dia bonito e simples. Quem olhasse para ela veria força, mas não poderiam olhar dentro dos seus olhos, era a única regra. Então quando perguntaram se tudo bem, ela disse que tudo bem…Disse olhando para o chão, e durante o dia desviou olhares angustiantemente…Era a única regra. Por que se olhassem seus olhos iriam ver que enquanto recolhia os cacos e construía o dia, uma dor insuportável invadia seu peito, um grito recolhido se escondia no meio de sua garganta, desviava o olhar para não chorar, por que sentia dor ao dizer tudo bem e culpa ao pensar que não. Ela se viu sozinha naquela manhã fria, sozinha e perdida, mas não podia se dar ao luxo de chorar ou tocar músicas tristes naquele violão de lembranças, não podia por que tinha um dia para construir, tinha sorrisos para colocar no rosto daquela criança e calma no coração daquele homem. Foi o que ela sempre fez…A vida toda. Alguém ao longe comentou que ela havia “segurado as pontas”…Mas ela sentia como se tivesse segurado vidas e o mundo. Ela tentou não pensar, respirar um pouco menos, mas era difícil. Alguém a segurou…Uma pessoa que talvez ela nem saiba e só imagine, mas essa pessoa olhou os olhos dela… Ela respirou fundo, e sentiu sem palavras que ele lhe disse : “vai ficar tudo bem”, ela ficou em paz, pelo menos pode ficar em paz enquanto estava ali,no dia em que construiu,sem pensar em cacos,em dedos machucados,em lágrimas de crianças ou na raiva dos homens. Mal sabia que quem a segurou jamais existiu, nunca esteve ali. À noite quando olhou no espelho quis chorar, mas achou melhor deixar isso para outro dia, se prendeu nos abraços e nos momentos simples e bons. No dia seguinte quando se viu sozinha sentiu que um dos cacos a machucou. E apesar de tudo, sorriu. Então ao olhar no espelho… Me viu,eu me vi no espelho, e chorei.”

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Ultima Dose

“Você me assustou quando segurou minha mão , como se fosse a coisa mais normal do mundo, a coisa mais normal do mundo existir um “nós”, você me convidou para dar uma ultima volta, “vamos tomar só mais uma dose amor” repetiu enquanto eu fazia caretas e não respondia absolutamente nada. Eu não quero que você segure minha mão de novo sendo que eu vou estar em outro mundo, vou sorrir querendo ir embora, eu não quero tomar mais uma dose, nem meia dose... Quero poder dormir sem me arrepender dos meios sorrisos que desperdicei com você. Cansei de jogar dados, você e essa mania de pensar que está ganhando quando já perdeu, esse seu jeito de “dane-se a vida”  já me enjoou, pois está na hora de crescer e ao invés de doses, garrafas inteiras, garrafas inteiras de amor.”

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Again.


“Meu maior medo, depois de todas as quedas, de todos os cortes, era que eu não sentisse mais dor, sabe ? Que ficasse acostumada, que eu fosse incapaz de chorar, de ficar triste de sentir isso. Meu maior medo era me tornar fria para esses sentimentos, a dor também é importante, e chorar talvez seja o que nos torna mais humanos.
Eu levantei de todas as quedas, sozinha. Eu costurei cada machucado, com minhas próprias mãos, eu descobri toda a minha força e vontade de viver. Porém, receio que meu medo esteja se tornando verdade...
Cumpri sozinha todas as promessas que um dia me fizeram, me vi na obrigação disso, promessas para mim são a honra de uma pessoa, e já que não foram capaz de ter...
É engraçado como a dor passa tão rápido, você até pensa que não irá agüentar, que prefere morrer, e quando vai ver, nem se lembra mais... Foi ficando cada vez mais difícil de chorar, de doer, de abalar... Cada vez mais difícil. Pelo menos com o que acontecia e acontece comigo, vai ver é por que sei que não importa o quanto eu chore, as pessoas são o que são. Não o que eu penso ou vejo nelas... Vai ver é por que eu sei que eu vou acabar levantando, costurando tudo de novo e seguindo em frente, até trombar e cair de novo. Não me orgulho disso que estou sentindo... Justamente por não conseguir sentir nada.
Que eu não me perca, que eu não perca todo o sentimento que eu estou escondendo e trancando bem lá no fundo, e que eu não perca a chave.”

sábado, 7 de janeiro de 2012

Vidro

“Vai ver coração é de vidro, espatifa todinho no chão. Você cola todos os pedacinhos  com cuidado, com carinho, algumas vezes até ganha ajuda para colar e recolher os caquinhos. Quando colamos vidro quebrado, dá para ver as marquinhas ainda... Quando você passa mão nele, pode sentir onde cada pedacinho foi remendado... Algumas vezes, alguns pedacinhos se perdem, o vento leva, então não dá para colar de volta. Vidro colado é bem mais sensível sabe... Um toque errado e ele se parte todinho em sua mão. Por isso que temos que derreter o vidro, assim não fica marquinha, não fica remendo, ele fica forte de novo. Vai ver que para reconstruir primeiro tem que destruir cada partezinha, bem destruída... Assim pode derreter, moldar e deixar tudo brilhante de novo. Vai ver, coração é de vidro... Quando quebra, derretemos, moldamos e podemos até encher de borboletinhas coloridas dentro.”

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Something Inside

“Quando a única pessoa que você procura não se encontra em canto algum, e você intensifica de volta todos seus passos, tentando descobrir. Você quer procurar. Você quer desistir. Sua cabeça está presa em volta no que envolta é a próxima esquina.Você deseja poder encontrar algo seguro, por que está tremendo de frio. 
É a primeira coisa que você vê enquanto abre seus olhos... A última coisa que você diz enquanto está dizendo adeus. Algo dentro de você está chorando e te guiando. Pois se você não tivesse me encontrado... Eu teria encontrado você, eu teria encontrado você. 
Tanto tempo você esteve correndo em círculos, em volta do que está em jogo. Mas agora o tempo vem até seus pés para ficar parado em um único lugar. Você quer procurar. Você quer desistir. Sua cabeça está presa em volta no que envolta é a próxima esquina. Você deseja poder encontrar algo seguro, por que está tremendo de frio.
É a primeira coisa que você vê enquanto abre seus olhos... A última coisa que você diz enquanto está dizendo adeus. Algo dentro de você está chorando e te guiando. Pois se você não tivesse me encontrado... Eu teria encontrado você, eu teria encontrado você. Esse foi o seu primeiro gosto do amor, vivendo sobre o que você tinha...
É a primeira coisa que você vê enquanto abre seus olhos... A última coisa que você diz enquanto está dizendo adeus. Algo dentro de você está chorando e te guiando. Pois se você não tivesse me encontrado... Eu teria encontrado você, eu teria encontrado você.”

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Conto de fadas


“As pessoas de carne e osso me assustaram quando acordei desse sonho forçado em que vivia, eu que me mantive lá em paz, nas cores pasteis e suaves, no amor... Pensei ser seguro abrir os olhos agora, pensei ser seguro.As cores fortes e brilhantes quase me segaram, perfumes, formas , sons. São, apenas humanos, apenas pessoas... Você não deve idealizar uma pessoa, não deve colocar sua vida nas mãos de um simples humano.
Contos de fadas são virados ao avesso, a carruagem é um par de tênis e a fada madrinha é o perfeito disfarce do diabo.Não existe príncipe encantado nenhum,nunca existiu...
Mas  continuo acreditando que sim, continuo vendo por do sol, continuo ouvindo The Beatles e Debussy, continuo ouvindo melodias em cada olhar.
Não faz mal, apesar de toda a imagem bonita que eu tinha ter caído, eu continuo aqui, por que é isso que sou, sou amor.
Hoje ouvi uma menina triste dizer que sente saudades do amor, mas ela deveria ver que o amor está sempre perto, ela só deve parar de andar de cabeça baixa para dar de cara com ele... Amor também sente saudade de gente.”